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POEMAS MÍSTICOS DO ORIENTE - MARCUS VIANNA - LETÍCIA SABATELLA




POEMAS MÍSTICOS DO ORIENTE - MARCUS VIANNA - LETÍCIA SABATELLA

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“Poemas Místicos do Oriente” é uma seleção de poemas de três grandes filósofos orientais: o libanês Khalil Gibran e os persas e sufis Omar Khayyam e Rumi. “Poemas Místicos do Oriente” é um tratado sobre Transcendência. Tanto música quanto poesia, insistem e apontam para a fugacidade dos sonhos humanos e os valores permanentes do Espírito. O resultado final para o ouvinte atento é uma grande transformação de consciência. Os poemas são recitados por Letícia Sabatella e a música é de Marcus Viana.

RELAÇÃO DE MÚSICAS:


01 – Rubaiyat I

02 – Rubaiyat II

03 – A Lua de Tabriz

04 – Na Floresta

05 – Artista

06 – O Destino do Coração

07 – Rubaiyat III

08 – O que Não Somos

09 – O Mundo Além das Palavras

10 – Estou Partindo / Fica

11 – Talaa Al Badru Aalaina

12 – Sama III / IV

13 – A Hora da União

14 – Mundos Infinitos

15 – Do Amor




o canto é a melhor loucura, e o canto da flauta sobrevive aos ponderados


e aos racionais


na floresta não existem homens livres ou escravos


todas as glórias são vãs como borbulhas na água 


quando a amendoeira lança suas flores sobre o espinheiro não diz


ele é desprezível, e eu sou um grande senhor


dá-me a flauta e canta que o canto é glóra autêntica


e o lamento da flauta sobrevive ao nobre e ao vil


na floresta não existe fortaleza ou fragilidade 


quando o leão ruge não dizem ele é temível


a vontade humana é apenas uma som1- Rubaiyat quando o mar quebrou-se em ondas,

a sabedoria divina lançou sua voz ao longe.

Assim tudo ocorre, assim tudo foi feito.


Debaixo de um Arbusto, um pão, uma Garrafa

De Vinho e meus Poemas: tudo o que preciso -

E Tu, que do meu lado cantas no Deserto,


e o Deserto se tora, então, no Paraiso.


2. Rubaiyat Il


Logo o mar inundou-se de espumas,

e cada gota de espuma

tomou forma e corpo.


ao receber o chamado do mar,


cada corpo de espuma se desfez

Entrado no Universo, sem saber por que,  

Nem de onde, tal qual a Agua, queira ou nao, a fluir 

E fora dele, como o Vento em Descampado 

Soprando, queira ou não, sem saber para onde ir. 



3- A Lua de Tabriz



Com a maré da manhã surgiu no céu uma lua.

De li desceu e fitou me.


Como o falcão que arrebata o pássaro,

essa lua agarrou-me e Cruzou o céu.

Quando olhei para mim, já não me vi:

naquela lua meu corpo se tornara,

por graça, sutil como a alma.


Viajei então em estado de alma


nada mais vi senão a lua,


até que o segredo do saber divino


me foi por inteiro revelado:


as nove esferas celestes fundiram-se na lua


e o vaso do meu ser dissolveu-se inteiro no mar


quando o mar quebrou-se em ondas , a sabedoria divina lançou-se


sua voz ao longe, assim tudo ocorreu, assim tudo foi feito


logo o mar inundou-se de espumas, e cada gota de espuma tomou forma e cor


ao receber o chamado do mar cada corpo de espuma se desfez e tornou-se espírito no 


oceano, sem a majestade do amado não poderia se comtemplar a lua nem se tornar-se má

___________

4 - Na Floresta


na floresta, não existe

nem rebanho, nem pastor:

quando o inverno caminha,

segue seu distinto curso,

como faz a primavera,


os homens nasceram escravos

daquele que repudia a submissão,

Se ele um dia se levanta

e Ihes indica o caminho,

com ele caminharão.


Dá-me a flauta e canta,


o canto é o pasto das mentes.

E o lamento da flauta

perdura mais


que rebanho e pastor.


na floresta, não existe

ignorante ou sábio:


quando os ramos se agitam,

a ninguém reverenciam.


o saber humano


é ilusório


como a cerração dos campos

que se esvai quando o sol


se levanta no horizonte.


Dá-me a flauta e canta,


o canto é o melhor saber,

e o lamento da flauta

sobrevive


ao cintilar das estrelas.


na floresta só existe lembrança dos amorosos


os que dominaram o mundo, e conquistaram e oprimiram


os seus nome são como letras dos nomes dos criminosos


conquistador entre nós é aquele que sabe amar


dá-me a flauta e canta, pois o lírio é uma taça para o orvalho


e não para o sangue


na floresta não há crítico nem censor


se as gazelas se perturbam quando avistam o companheiro

bra que vagueia no espaço


do pensamento e o direito dos homens fenece como folhas de outono


dá-me a flauta e canta, o canto é a força do espírito


e o lamento da flauta sobrevive ao apagamento dos sóis


na floresta não há morte nem há túmulos


a alegria não more quando se vai a primavera 


o pavor da morte é uma quimera que se insinua no coração


pois quem vive uma primavera é como se houvesse vivido séculos


dá-me a flauta e canta, o canto é o segredo da vida eterna


e o lamento da flauta permanecerá após findar-se a existência

_______

5 - Artista 



Sou artista, pintor, desenho em imagens,

nenhuma se compara a Teu fulgor.


Sei criar mil fantasmas, dar-lhes vida,

mas se vejo Teu rosto, dou-lhes fogo.


Serves Teu vinho ao ébrio na taberna,

e abates toda casa que construo


Nossa alma em Ti se dissolve: agua na agua,

vinho no vinho: sinto o Teu perfume.


Cada gota de meu sangue te implora:

Faz-me Teu par  da-me Tua cor


Sofre minha alma na casa de argila:

Entra, Amado, senão ei de partir

______

6 - O Destino do Coração

os olhos foram feitos para ver coisas insólitas,

fez-se a alma para gozar da alegria e do prazer.

o coração foi destinado a embriagar-se

na beleza do amigo ou na aflição da auséncia.

A meta do amor é voar até o firmamento,

a do intelecto, desvendar as leis e o mundo.

Para além das causas estão os mistérios, as maravilhas,

os olhos ficarão cegos

quando virem que todas as coisas

São Apenas Meios para o saber.

o amante, difamado neste mundo

por uma centena de acusações

receberá, no momento da união,

cem títulos e nomes.

Peregrinar nas areias do deserto

Nas exige suportar

beber leite de camelo,

ser pilhados por beduinos.

Apaixonado, o peregrino beija a Pedra Negra

ansioso por sentir mais uma vez

o toque dos labios do amigo

degustar como antes o seu beijo.

ó alma, no cunhes moedas com o ouro das palavras:

o buscador é aguele que vai

à propria mina de ouro.

 

___

7 - Rubaiyat III

No Céu, a mão Esquerda da Alvorada; eu sonho.

na Taverna uma Voz escuto na Algazarra

Despertai, meus Pequenos, e enchei bem o Copo

Antes que seque o Vinho da Vida em sua Jarra.

Ah! enche o Copo de que serve repetir

Que o Tempo sob os nossos Pés ja vai fugindo

o amanhã não nasceu e o ontem já morreu,

Por que me hei de importar, se o dia de hoje é lindo

E ao Concavo invertido que se chama o Céu,

Sob o qual rastejaram o vivo e ao que morreu,

Não ergas teus mãos, pedinte. Ele é impotente

No seu girar, tal qual o somos Tu ou eu

o Dedo que se Move escreve, e, tendo escrito,

Se vai. E toda Argúcia e Piedade, entretanto,

Nao o trarão de volta a mudar meia Linha,

Nem as Palavras podes apagar com o Pranto,

E se o Vinho que bebes, o Labio que oprimes

Findam nesse Nada que a Tudo dá sumiço,

Imagina, então, que és; não podes ser senao

O que has de ser - Nada! Não serás menos que isso.

passamos o que é mais do que ainda há por fazer 

antes que nós ao pó vamos enfim, pó vai para o pó

sobre o pó vai jazer, sem vinhos sem canções e sem cantor sem fim

é tudo uma tabuleiro de noites e dias , os homens são peças

e o fado temerário. com elas joga, e move toma e dá um mate

e uma a uma as recolhe vai guardar no armário

façamos o que mais que ainda há por fazer

antes que nós ao pó vamos enfim

o pó vai para o pó vai jazer , sem vinhos sem canções

sem cantor , sem fim

______________

8. O que nao Somos

A dor que atraimos

transforma-se em alegria.

Vem, tristeza, aos nossos braços ;

somos nds o elixir dos sofrimentos,

o bicho-da-seda come as folhas

e faz seu casulo.

não possuimos a folhagem desta terra

somos nos o casulo do amor.

Apenas somos

quando em nada nos tormamos.

quanto perdemos nossas pernas

é que nos tornamos corredores

Calo minha boca,

Direi o resto do poema

de boca fechada.

_______

9-O Mundo Além das Palavras

Dentro deste mundo há outro mundo

impermeável as palavras.

Nele, nem a vida teme a morte,

nem a primavera da lugar ao outono.

Histórias e lendas surgem dos tetos e paredes,

até mesmo as rochas e àrvores exalam poesia.

Aqui, a coruja transforma-se em pavão,

o lobo, em belo pastor.

Para mudar a paisagem,

basta mudar o que sentes;

e se queres passear por esses lugares,

basta expressar o desejo.

Fixa o olhar no deserto de espinhos.

Já é agora um jardim florido!

Ves aquele bloco de pedra no chao?

Já se move e dele surge a mina de rubis!

Lava tuas mãos e teu rosto

nas águas deste lugar,

que aqui te preparam um falso banquete.

Aqui, todo ser gera um anjo;

e quando me vem subindo aos céus

os cadaveres retornam a vida.

Decerto viste as árvores crescendo da terra,

mas quem há de ter visto o nascimento do Paraiso?

Viste também as aguas dos mares e rios,

mas quem há de ter visto nascer

de uma única gota d'água

uma cintura de guerreiros

Quem haveria de imaginar essa morada,

esse céu, esse jardim do paraiso

Tu. que ouves este poema, traduze-o.

Diz a todos o que aprendeste

sobre este lugar.

______

10 - Estou Partindo

Fica, se te interessa.

Através dos jardins, através dos pomares,

estou partindo,

Meu dia é sombrio sem sua face,

eis porque me dirijo agora

a chama brilhante no céu.

Minha alma corre a frente e diz:

o corpo é lento demais,

estou partindo.

maças exalam no pomar de minha alma.

Seu perfume me invade

e me transporta para a colheita das maças.

Ventos súbitos não me desviarão:

qual montanha de ferro,

cada um de meus passos

dirige-se ao amado.

Minha cabeca rompeu-se

com a dor de sua perda:

em busca de uma nova vida,

cabeça erguida,

estou partindo.

Sou fogo vivo e mais pareço betume;

quero ser óleo limpido em tua lámpada

e por isso parto.

Pareço imóvel como a montanha,

Mas Sigo, pouco a pouco,

em direção a pequena fresta.

- Estou chegando,

Fica

Tocaste a órbita do coração celeste,

agora fica aqui.

Pudeste ver a lua nova

agora fica.

Sofreste em excesso

por tua ignorância,

carregaste teus trapos

para um lado e para outro,

agora fica aqui.

Teu tempo acabou.

Escutaste tudo o que se pode dizer

sobre a beleza desse amante,

fica aqui agora.

Juraste em teu coração

que havia leite nesses seios,

agora que provaste desse leite,

fica.

______

12 - Sama II/IV

Viemos girando

do nada,

espalhando estrelas

Como pó.

As estrelas puseram-se em circulo

e nós ao centro dançamos com elas,

Come a pedra do moinho(sic),

em torno de Deus

gira a roda do céu,

Segura o raio  dessa roda

e terás a mão decepada.

Girando e girando

essa roda dissolve

todo e qualquer apego.

Não estivesse apaixonada,

ela mesma gritaria - basta!

Até quando há de seguir esse giro

Cada átomo gira desnorteado,

mendigos circulam entre as mesas,

cães rondam um pedaço de came,

O amante gira em torno

de seu proprio coração.

Envergonhado ante tanta beleza,

giro ao redor de minha vergonha.

Vem!

ouve a música do sama,

Vem unir-te ao som dos tambores!

Aqui celebramos:

Somos todos a verdade!

em êxtase estamos 

embriagados sim mas de um vinho que não se colhe da videira 

o quer que pense de nós

giramos e giramos em êxtase, esta é a noite do sama, há luz agora!luz luz!

eis o amor verdadeiro que desmente a deus, esse é o dia do adeus, adeus, adeus!

todos coração que arde nessa noite, amigo da música, ardendo por teus lábios

meu coração transborda de minha boca

Silêncio

silêncio és feito de pensamento, afeto e paixão,

o que resta  é nada

além de came e ossos,

Por que nos falam

de templos de oração,

de atos piedosos

Somos o caçador e a caça

outono e Primavera,

noite e dia,

o Visível e o Invisível,

somos o tesouro do espírito do mundo

livres do peso que vergasta o corpo

prisioneiros não somos do tempo

nem do espaço nem mesmo da terra que pisamos

no amor fomos gerados no amor, nascemos

____________

13 - A Hora da União

De toda parte chega o segredo de Deus:

eis que todos correm, desconcertados.

Dele, por quem todas as almas estão sedentas,

chega o grito do abadeiro

Todos bebem o leite da generosidade divina

e querem agora conhecer o seio de sua nutriz,

apartados, anseiam por ver

o momenta do encontro e da união

A cada nascer do sol oram juntos

muçulmanos, cristãos, judeus.

Abençoado é todo aquele em cujo coração

ressoa o grito celeste que chama: Vem!

Limpa bem teus ouvidos

e recebe nitida essa voz

o som do céu chega como um sussurro.

não manches teus olhos

com a face dos homens

vê que chega o imperador da vida eterna.

Se te turvaram os olhos,

lava-os com lagrimas,

pois nelas encontrarás

a cura de teus males.

Acaba de chegar do Egito

uma caravana de açucar

e já se ouvem os sinos e os passos cansados,

Siléncio!

Eis que chega o Rei

para completar o poema.

______

- a cada instante , a voz do amor nos circunda e partimos ao céu profundo, porque deter-se 

ao olhar ao redor, ja estivemos antes por esses espaços, e ate os anjos os reconhecem. retornemos ao mestre, que é lá nosso lugar. estamos acima das esferas celestes, somos superiores aos prórprios anjos

além da dualidade , nossa meta é a glória suprema , quão distante está o mundo terreno da pura substância

poque descemos tantos? apanhemos nosssas coisas e subamos mais uma vez , sorte não nos faltará, ao entregarmos novamente nossas almas , nossa caravana tem por guia mustafá, a glória do mundo, ao contemplar sua face a lua partiu-se em dois pedaços, não pode suportar tanta beleza, e  fez-se feliz mendicante frente àquela riqueza , a doçura que o vento nos trás é perfume de seus cabelos a face traz consigo a luz do dia reflete o brilho dos seus pensamentos - olha bem dentro de teu coração e vê a lua que se despedaça porque teus olhos ainda fogem dessa visão maravilhosa , o homem emerge do oceano da alma como os pássaros do mar , como ardes a terra seca o lugar do descanso final de uma ave nascida nesse mar, somos pérolas desse oceano a ele pertencemos cada um de nós seguimos o movimento das ondas que se arrastam até a terra e então retornam ao mar e eis que surge uma última onda arremessa o navio (sic) do corpo à terra e quando essa onda regressa naufraga a alma em seu oceano e este é o momento da união.

SOBRE O AMOR KHALIL GIBRAN 

Quando o amor vos chamar, segui-o.

Embora seus caminhos sejam agrestes e escarpados;

E quando ele vos envolver com suas asas, cedei-lhe,

embora a espada oculta na sua plumagem possa ferir-vos;

E quando ele vos falar, acreditai nele,

embora sua voz possa despedaçar vossos sonhos

como o vento devasta o jardim.

Pois, da mesma forma que o amor vos coroa,

assim ele vos crucifica.

E da mesma forma que contribui para vosso crescimento,

trabalha para vossa poda.

E da mesma forma que alcança vossa altura e

acaricia vossos ramos mais tenros que se embalam ao sol,

assim também desce até vossas raízes e

as sacode no seu apego à terra.

Como feixes de trigo, ele vos aperta junto ao seu coração.

Ele vos debulha para expor a vossa nudez.

Ele vos peneira para libertar-vos das palhas.

Ele vos mói até a extrema brancura.

Ele vos amassa até que vos torneis maleáveis.

Então, ele vos leva ao fogo sagrado e

vos transforma no pão místico do banquete divino.

Todas essas coisas,

o amor operará em vós

para que conheçais os segredos de vossos corações e,

com esse conhecimento,

vos convertais no pão místico do banquete divino.

 

Todavia,

se no vosso temor,

procurardes somente a paz do amor e

o gozo do amor,

então seria melhor para vós que cobrísseis vossa nudez e

abandonásseis a eira do amor,

para entrar num mundo sem estações,

onde rireis,

mas não todos os vossos risos,

e chorareis,

mas não todas as vossas lágrimas.

 

O amor nada dá senão de si próprio e

nada recebe senão de si próprio.

O amor não possui,

nem se deixa possuir.

Pois o amor basta-se a si mesmo.

Quando um de vós ama, que não diga:

"Deus está no meu coração",

mas que diga antes:

"Eu estou no coração de Deus".

E não imagineis que possais dirigir o curso do amor,

pois o amor,

se vos achar dignos,

determinará ele próprio o vosso curso.

O amor não tem outro desejo senão

o de atingir a sua plenitude.

 

Se,

contudo,

amardes e precisardes ter desejos,

sejam estes os vossos desejos:

De vos diluirdes no amor e

serdes como um riacho que canta sua melodia para a noite;

De conhecerdes a dor de sentir ternura demasiada;

De ficardes feridos por vossa própria compreensão do amor e

de sangrardes de boa vontade e com alegria;

De acordardes na aurora com o coração alado e

agradecerdes por um novo dia de amor;

De descansardes ao meio-dia e

meditardes sobre o êxtase do amor;

De voltardes para casa à noite com gratidão;

E de adormecerdes com uma prece no coração para o bem-amado,

e nos lábios

uma canção

de bem-aventurança.


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